Outubro: Mês da Criança e do Adulto!
Outubro é o mês em que as crianças são muito lembradas: presentes, demonstração de amor, carinho e nós adultos queremos transmitir o quanto elas são importantes na nossa vida. Para mães e pais a certeza da própria continuidade de vida e a projeção de vidas futuras independentes, autônomas e felizes…Ou seja: “Filhos felizes = mães e pais felizes X 1000.”
Existem crianças que estão em seus lares, mas não experenciam esta fórmula, porque se tornam esquecidas com a correria dos pais, que lutam para, financeiramente, suprir tudo que os filhos necessitam. E porque trabalham demais, e também necessitam “de um tempo” para si próprios, as crianças são “negadas” na sua essência e então a sua fórmula se torna assim: “Filhos com muitos brinquedos = mães e pais felizes e sem culpa de não dar atenção.”
Existe ainda outra realidade: Crianças que não tem estes adultos à sua volta que as protegem e pensam no seu futuro. Isto porque quem as cuida na verdade são fantasmas de si mesmos, que projetam na criança tudo de ruim, e as tornam vítimas de várias formas de violência dentro do seu próprio lar. Estamos falando de crianças vítimas de violência doméstica. Então, o adulto protetor passa a ser o agressor e o espaço de desenvolvimento e crescimento ou o seu lar passa a ser um ambiente de traumas e seqüelas que nenhuma criança no mundo deveria experenciar. Como seria então a fórmula que vivenciam estas crianças? Infelizmente só tem uma lógica de expressão: “Pais ou adultos cuidadores agressores e infelizes = criança vitimizada, infeliz e sequelada X 100.0000.”
Em qualquer uma das três fórmulas o que podemos refletir é que as crianças são como esponjas que absorvem tudo que recebem do meio onde vivem. Os alimentos emocional, físico e social constroem suas vivências infantis que são parte da fórmula da personalidade: “Personalidade = hereditariedade + vivências infantis.”
Refletir sobre estes nutrientes que a criança precisa absorver de fato é uma forma responsável de refletir sobre o significado da infância para o mundo dos adultos. Ou ainda, qual o significado da infância para a sociedade de hoje? E conseqüentemente, como esta sociedade está investindo na infância hoje, para projetar os adultos do futuro desta mesma sociedade? E o mês da criança é o mês de refletir sobre a responsabilidade do mundo adulto sobre quais as vivências
infantis oferecemos para o construto da felicidade na infância e das suas personalidades. Temos que refletir sobre isso…Não dá para esperar. A família, o governo e a sociedade devem participar juntos para cortar este circulo vicioso da violência contra a criança. Cada comunidade deve investir na paz…Investir na paz é ajudar a projetar vidas pacíficas…Pequenas vidas longe de todas as formas de violência doméstica e bem perto de adultos que protegem de verdade…Que desejam o real desenvolvimento da criança. Ou seja, temos que tornar os adultos em verdadeiros responsáveis pela infância de verdade, e se isso não é possível, então substituí-los por alguém que faça esse papel.
Esta substituição dos adultos que possam de fato oferecer estes nutrientes essenciais às crianças, se refere à intervenção. E a intervenção pode ser temporária até a reestruturação da família de origem. Mas quando retornar à sua família de origem não é possível então a inserção desta criança deve ser em família substituta que possa construir a lógica da primeira fórmula mencionada. Neste caso as possibilidades são através da adoção e caso a criança não tiver a possibilidade de ser adotada então existe o programa de família social, com a presença da figura materna social ou mãe social. Na intervenção temporária que é de proteção especial, em que as crianças passam a viver em um programa de acolhimento institucional, buscamos fazer valer a seguinte fórmula: “Criança vitimizada + acolhimento responsável = vivências infantis saudáveis.”
Substituir os nutrientes essenciais para a felicidade e formação da personalidade destas crianças é o fundamento da intervenção na primeira infância. Tirá-las da posição de “vítimas” é o primeiro passo. Nós da SOS – Casas de Acolhida buscamos fazer valer o que as fórmulas sintetizam, mas mostram de forma real a importância do adulto na vida da criança. Investir na recuperação das crianças vítimas de violência perpassa pela amenização de seus traumas, recuperação de sua auto-estima e auto-imagem, desenvolvimento de seus potenciais, e possibilitar que seja criança de verdade longe dos fantasmas dos adultos que não conseguem se controlar e, portanto precisam de ajuda e tratamento para não “destratar” as suas crianças.
Existe outra fórmula que retrata a importância da participação da comunidade no investimento para a paz: “Acolhimento institucional + apoio da comunidade = criança protegida e feliz e projeção de sociedade mais pacífica.”
Com certeza existem muitas outras fórmulas que refletem a realidade das experiências que os adultos possibilitam às suas crianças. Por exemplo, aqueles que podem realmente dar muitos brinquedos às crianças, mas não se eximem do alimento emocional. Que necessitam de apoio e tratamento e não projetam a violência nas suas crianças e as protegem. Aqueles que trabalham muito, mas arranjam um “tempo” para expressar seu amor e proteção aos seus filhos infantes E assim nós adultos temos muitas opções de construir vivências infantis às crianças…Nós escolhemos e elas absorvem, vivem e nesta base direcionam a sua vida adulta!